24/05/2021

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M0B Studio: Por Dentro do Templo de Um dos Mais Conceituados Estúdios de Mixagem e Masterização do Brasil!

Fala comigo ávidos leitores, buscadores de conhecimento!! Hoje teremos o privilégio de trazer para vocês um bate-papo muito cabeça que fizemos com o M0B!

Já conhecido de muitos pelas pistas do Brasil como um grande artista de Techno e Melodic House, o DJ e produtor também tem um alter ego menos afamado em relação ao público, mas com muita reputação e moral na indústria da música como engenheiro de áudio!

DJ M0B | Créditos Instagram: @m0bmusic
DJ M0B | Créditos Instagram: @m0bmusic

Rafael Morato tem em suas décadas de estúdio grandes conquistas no music business como engenheiro de áudio, sendo requisitado por inúmeros artistas, de diversos países, para prestar seus serviços de mixagem técnica e masterização!

Nessa entrevista o profissional abre as portas do seu estúdio para o Portal B2B e para vocês. Juntos iremos conferir um pouco mais da dupla trajetória do M0B, falaremos de questões técnicas e de engenharia de áudio, das conquistas e do cenário atual. Bora lá conferir essa super matéria?

Com vocês: o grande M0B!

Portal B2B: Quando que o Rafael virou o M0B?

M0B: “Desde os 8 anos de idade! M0B sempre foi meu apelido, por causa da baleia Moby Dick (risos)… eu sempre fui gordinho/grandão. Então desde a infância… e na época a gente não sabia inglês e ficou M0B, que só depois eu descobri que, sem o Y, significa máfia.”

Portal B2B: Você comentou em uma ocasião que migrou do psytrance para o house e techno, por que e como isso aconteceu?

M0B: Cada ano que passa é um BPM que desce! A medida que você vai ficando mais velho você fica mais “cansado”… o trance é muito acelerado. Apesar de já ter feito muitas músicas com Freedom Fighters, Timelocke, Earthling, Switch (do duo Coming Soon!), a partir de 2005 eu comecei a tocar house, como residente na Major Lock, junto com o Paulo Jardim… também, na primeira edição da Flowers eu toquei house… a partir de lá eu já estava com os planos de “tirar o pé do trance”.

Portal B2B: Você não tem intenção de voltar ao trance no futuro?

M0B: “Não… o trance é um negócio que acontece desse jeito só aqui no Brasil, no resto do mundo não tem essa relevância… em termos internacionais é visto de forma muito periférica. Por exemplo em Israel [conhecido por uma cena forte do trance], o país inteiro é menor que Minas Gerais, menor que a cidade de São Paulo.”

Portal B2B: Com todo o sucesso que você adquiriu ao longo da sua carreira de produtor, DJ e engenheiro de áudio, como é ser notado pelos cânones de diversos estilos, desde Freedom Fighters e Timelocke do psytrance e até os gigantes do techno como Carl Cox e Richie Hawtin?

M0B: “(risos) Eu não me vejo assim hein… mas é difícil a pergunta… eu não consigo nem explicar direito. No trance estávamos todos juntos lá no começo… eu conheci o Freedom Fighters e o Timelocke aqui na minha casa… eles vinham para o Brasil e ficavam aqui… eu não tenho assim toda essa dimensão, com eles sempre foi na amizade. Já no techno, no melodic, no house e no nu-disco foi diferente porque eu não tive contato com essas pessoas, muitas delas eu ainda não tenho. Realmente eu me assustei quando vi que esses caras estavam tocando minha música, ou então alguma gravadora mandou uma promo minha e eles baixaram, me agradeceram e comentaram comigo que com certeza tocariam. Isso ainda me surpreende todo dia… é muito louco.”

Portal B2B: Como surgiu o interesse em trabalhar como engenheiro de áudio

M0B: “Foi a partir da primeira vez que teve Infected Mushroom em Belo Horizonte. Eu nunca tinha visto Infected Mushroom, mas eu já era da rave, já estava produzindo inclusive… só que eu não tinha visto ainda de perto um sistema de som tão agressivo, me lembro que era um EAW, ainda hoje um som sinistro, fabuloso… e naquela ocasião eu nunca tinha visto antes alguém com tanta grana para investir em som… na época o Infected já era um global artist mainstream, estava no top 100 da DJ Mag… antes disso eu nunca tinha me deparado com um som tão alto, claro e limpo e concluí: “Vou ter que aprender a fazer isso”, a partir daí eu comecei a cismar com esse mundo da qualidade do áudio e busquei contato com as pessoas que tinham um áudio sinistro, tipo o Timelocke… e em cada contato eu fui aprendendo uma coisa ou duas e criando gosto pela área e aplicando no meu trabalho.

Daí, anos depois, meu amigo Kryptus Gomes (filho do Pepeu Gomes com a Baby do Brasil) me convidou para uma parceria comercial que foi muito bem sucedida. Eu fazia a parte de mixagem e masterização pra muita gente, a demanda era quase infinita. A partir daí eu fui comprando cada vez mais equipamentos.”

Portal B2B: Quais as vantagens vêm quando um DJ e produtor se torna um engenheiro de áudio? Há diferença nas apresentações e no domínio da pista?

M0B: “Talvez não na performance ali no mixer, mas com certeza na preparação do set. Por exemplo, hoje em dia eu tenho um computador responsável apenas para fazer análise do áudio, em busca de um loudness level padronizado… eu deixo de tocar muita música que não entra nesse padrão… é um trabalho que geralmente DJ não tem.”

Portal B2B: Dos estilos com os quais já trabalhou como engenheiro, há diferença no trabalho executado? em qual consegue tirar mais vantagem da engenharia de audio e qual mais gosta de produzir

M0B: “Existe sim diferença. Cada estilo tem um padrão muito específico. Por exemplo, quando eu trabalhava com house e nu-disco, estilos mais comerciais, eu tinha que manter uma pegada de mix e master 100% mainstream. Na época que eu fazia coisas com o EDX para a Enormous Tunes, No Definition, Sirup Music e Spinnin’ tinha que manter o padrão de qualidade de tudo ultra mainstream… me lembro que eu era uma das poucas pessoas que não precisava ter o trabalho refeito pelo Chirs Reece, o engenheiro de áudio oficial deles. Até mesmo porque tudo isso começou porque em um determinado momento eu queria ser igual ao Crhis Reece! (risos). Então lá eu podia esmirilar os equipamentos com mais força, porque lá o padrão exigia isso, uma mix mais exagerada. Já o underground, para onde eu me voltei com o tempo, é praticamente o oposto… eu tive que ir me “desviciando” de fazer mixes muito complexas para o meu som ficar parecido com o que rolava… principalmente se você faz um som mais conceitual. Do house para o tech-house é diferente, do Techno para o Melodic é diferente, do melodic para o progressive é diferente, afrohouse é diferente! Cada estilo tem um padrão próprio e é onde a maioria das pessoas erra, acostumados com algo a vida inteira, ao migrar cometem grandes erros em relação ao sound-design.”

Portal B2B: Dos estilos com os quais já trabalhou qual você gosta mais?

M0B: “Difícil… não tem um que eu goste mais… mas por exemplo, afrohouse é um estilo que eu gosto bastante pois ele me permite ser “mais gentil”, sem a necessidade de estressar os elementos na mix, tudo tem que soar super solto, super orgânico… tem que ter uma mix e master muito sutil, como uma grande banda acústica mixada, ou um Peter Gabriel. Techno já tem muito stress na mix, mas eu acho divertido…. no melodic é legal porque a mix se volta mais para a atmosfera da música do que para evidenciar algo muito “in the face”!”

Portal B2B: O que seria estressar a música no sentido da mix/master?

M0B: “Seria trabalhar a mix de forma a não deixar espaço para um “relaxamento”, deixar tenso! Isso envolve algumas técnicas de saturação, compressão muita vezes, de forma a deixa o som muito mais contundente e agressivo.”

Portal B2B: Você já trabalhou como engenheiro de áudio para bandas e sons acústicos?

M0B: “Já… não gosto. Problema de trabalhar com banda não é nem o som em si, mas é que tem muita gente, muitas opiniões divergentes… as vaidades dos artistas envolvidos… Por exemplo, você faz a mix e a master, o guitarrista as acha perfeitas, mas o baixista não porque o baixo sumiu: “dois corpos não ocupam o mesmo espaço, alguém tem que ceder!”.”

Portal B2B: Quais são as maiores dificuldades técnicas para um engenheiro de áudio?

M0B: “Além do desafio financeiro (risos)? Ter experiência… é o mais difícil. Muitas pessoas ao me contratarem para fazer a master acreditam na verdade estarem contratando meus equipamentos para o serviço, mas não é… é o meu gosto, é o “como” eu ouço, e isso só vem com experiência. A evolução também vem quando você trabalha com artistas que têm relevância e pra isso também precisa-se de experiência.”

Portal B2B: E o desafio financeiro?

M0B: “Eu acho que é o mais difícil… porque quer queira ou quer não, ao falar de mix e master você tá falando de dinheiro…. e muito! Os equipamentos custam muito caro, em dólar, e ainda têm os impostos. Por exemplo, aqui no estúdio esse SSL G-BUS Compressor, que é apenas UM equipamento [dentre dezenas de outros] custou por volta de US$ 3.000,00… aí você considera o câmbio e os impostos… Outra coisa… depois de montar tudo isso, você tem uma “Ferrari”, portanto não pode se colocar qualquer pneu na sua Ferrari (risos). Então aqui eu não posso colocar qualquer cabo de 100 reais… não vai dar certo… tem inúmeros cabos aqui que são mais de mil reais.”

Portal B2B: Já que você citou, como é o seu estúdio?

M0B: “O estúdio se divide assim: na frente ficam os hacks de master, monitor control, conversores de digital para analógico para os monitores Dynaudio e monitores B&W Ultra High End (que você só vai ver assim no Abbey Roadie Studios ou Skywalker Studios). Do lado aqui há o que eu chamo de “lado da mix” que são conversores summing de 32 canais nos quais eu trabalho kick, bass, drums, percussões etc e outro hack específico para synths, pads, fx, reverbs, returns e vocais. Após esse processamento passa tudo num conversor master para voltar a ser digital e vai para o PC. Depois vem para o compressor G-BUS, equalizador, compressor para mid-side e depois pro master limiter!”

Portal B2B: De todo esse arsenal, você tem algum equipamento que gosta mais?

M0B: “Não… tudo funciona como um sistema coeso… seria tipo perguntar para uma pessoa se ela gosta mais do fígado, do rim, do pulmão ou do coração (risos). Há uma timbragem própria no circuito… inclusive é muito comum eu comprar um equipamento, colocar aqui, mas o resultado final não condizer com o que eu procuro e eu me desfaço dele.”

Portal B2B: Comente suas maiores conquistas e parcerias:

M0B: “Então… no Beatport eu já consegui todas as colocações possíveis mais de uma vez, menos o Beatport Top 1 Overall, que conquistei só uma vez. Recentemente um trabalho meu conquistou o Top 1 no gênero Minimal/Deep Tech!

Entre as personalidades eu já fiz mix/master para o Alok e pro Nytron, já fiz para o Vintage e o Doozie… Também tive a honra de trabalhar para o Nie Meyer, com os músicos do Skank, Anderson Noize e Milton Nascimento. E fora da música eletrônica já trabalhei com Edson Cordeiro, Emanuelle Araujo (vocalista da Banda Eva).

Acredito que minha carreira de engenheiro de áudio é maior que minha carreira de DJ. Por isso que eu decidi separar minhas redes sociais… eu estava deixando de postar conquistas do meu estúdio para não se confundir com as conquistas do projeto MOB.”

Portal B2B: Comente brevemente as novas tecnologias de áudio, como o binaural e o áudio imersivo da Dolby Áticus:

M0B: “Isso veio do cinema né… eu já mixei para o cinema também. Acho que isso é válido por enquanto para pequenos projetos, conceituais e essas amostras de VJ, inclusive já ganhei alguns prêmios com o VJ Panik, mas eu até me esqueço de postar… sou muito à moda antiga (risos). E eu acho que essas tecnologias são muito doidas mesmo, no meu quarto fica no surround o dia inteiro… o problema é que só funciona quando você está no sweetspot ou no fone de ouvido… em eventos eu ainda não vejo a viabilidade, mas nada impede de alguém com uma mente muita criativa, um gênio, que faça isso funcionar com um super projeto, com torres de delay extremamente configuradas em milissegundos e fazer da festa uma mega esfera… mas é complexo!”

Portal B2B: Sobre esse seu último lançamento, a Dark Fall, como está sendo a recepção?

M0B: “Eu estou super feliz com o resultado da Dark Fall, uma track que eu fiz há um tempo atrás, eu achei que o mercado ia estranhar a track, muito introspectiva bem dark. Fiz com o vocal de uma menina de Londres, cantora lírica que curte cantar músicas celtas e nórdicas. Já no lançamento o Beatport deu feature na track, colocando ela na página inicial do site e como pré-venda… e eu nunca tinha visto isso acontecer! Até achei que era um erro do site, mas não, ficou o fim de semana todo, já ganhou indicação do Beatport no chart “Best Melodic House of May”. E hoje ela entrou no Top 100 do Melodic House. Fiquei bastante surpreso!

É isso aí galera! Espero que tenham aproveitado tanto quanto eu esse papo maravilhoso com um profissional tão excepcional! Confiram abaixo algumas tracks premiadas que foram esculpidas pelas mãos e ouvidos no M0B Studio e entendam de uma vez por todas de onde vem tanta credibilidade!”

https://open.spotify.com/embed/track/0njwRyVCyP3aQnlO1vSIig
https://open.spotify.com/embed/track/0y7HQDEEWcIxSBvGdGRh99

Sobre o autor

Seu Guia Completo da Música Eletrônica em Belo Horizonte

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