23/03/2021

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Conheça Ronaldo Coelho, o Cadeirante que “Voou” no Gramado do Mineirão.

Segundo o IBGE, no Brasil, 45 milhões de pessoas possuem algum tipo de deficiência – o número equivale a 24% da população do país inteiro. Debates acerca da diversidade, acessibilidade e inclusão têm cada vez mais impulsionado todos a pensarem melhor em relação a termos uma sociedade em que os mais diferentes sintam-se acolhidos e respeitados em todos os ambientes.

Antes de mais nada, é essencial entender as nomenclaturas e a maneira de se referir ao seu público. O termo “pessoas com mobilidade reduzida” refere-se aos idosos, gestantes, pessoas com crianças de colo e obesos. Já “pessoas com deficiência” refere-se à deficiência visual, auditiva, locomotora e intelectual.

Aí entra a acessibilidade para pessoas com deficiência nos eventos e seu importantíssimo papel! Seu intuito é de que TODOS tenham uma excelente experiência e que o evento seja um sucesso. Ir em acordo com as normas de inclusão comprova a consciência social do produtor e cuidado em atingir de igual para igual todos os participantes, assim como sua credibilidade.

Pensando nisso, decidimos entrevistar Ronaldo Coelho50 anos de idade, amante da música eletrônica há mais de 2 décadas e frequentador assíduo (antes da pandemia rs) de eventos eletrônicos. Procuramos entender melhor sua situação, que exemplifica a de muitos outros, e através de sua ótica, enxergarmos pontos a serem melhorados nos planejamentos e execução dos eventos, como ele vive a questão da acessibilidade nesses locais, as conquistas que esse público já obteve e seus anseios para o futuro. Confira a seguir!

ENTREVISTA COM RONALDO COELHO: VIVÊNCIA E ACESSIBILIDADE NOS EVENTOS

Ronaldo, antes de tudo gostaríamos de agradecer por compartilhar um pouquinho de sua vivência conosco. Há quanto tempo você descobriu a música eletrônica e o que ela representa para você?

“Conheço música eletrônica há mais de 20 anos, isso pra não falar até onde tenho ciência. Isso quando as músicas eram em locais onde as pessoas ficavam sabendo por amigos próximos.”

Há a presença de profissionais preparados e capacitadas para lidar e resolver problemas que possam surgir ao longo do evento com a dificuldade de locomoção que alguns frequentadores possam ter?

“Infelizmente muitos ainda não estão preparados para lidar com algumas dificuldades que possam surgir, mas não por não quererem e sim por falta de conhecimento ou até mesmo vivência. Diria mais que por vivência, entretanto, têm pessoas com muita boa vontade.”

Conte para gente alguns perrengues que já passou?

“Os principais “perrengues” que enfrentei são relacionados à acessibilidade para entrar nos eventos, estacionamentos longe ou diferentes, falta de informação ou comunicação entre os colaboradores do evento, tal como melhor maneira para adentrar no local, banheiros acessíveis.

Exemplo: em um dos eventos no Mineirão, já havia sinalizado que estaria presente e solicitado maior atenção, entretanto ao chegar o colaborador (seja da produção ou do estacionamento particular) que me atendeu não estava sabendo nem qual seria a melhor maneira de entrar no gramado, mesmo alertando que o melhor caminho seria pelo estacionamento G2, pois já conhecia.
Obs.: não estou dizendo que o Mineirão não é acessível.”

Com o passar dos anos, você sente que há uma preocupação crescente, em tornar os eventos mais inclusivos, ou ainda é um ponto que deixa muito a desejar?

“Sim! Posso dizer que nos últimos anos tem dito uma maior preocupação, mas entendo que seja por muitas vezes eu informar aos produtores que irá ter pessoa com usa cadeiras de rodas no local. Porém, reforço a ideia de ultimamente estarem tendo mais convivência e com o tempo aprendendo, e de que em eventos de grande porte, os produtores tem essa preocupação mais pela força de lei e não pela consciência.”

Presenciei com meus olhos você ser levantado e ovacionado pela multidão no front da Só Track Boa 2019 e a vibe indescritível deste momento (arrepio só de lembrar), de estar de frente com o Vintage Culture. Como isso ocorreu e como é para você ter a foto desse momento até os dias de hoje divulgada nas redes sociais do Vintage de da Só Track Boa?

“Foi um momento ímpar e maravilhoso! Até hoje me arrepio com essa cena e imagem. Tive uma alegria tão grandioso e senti que estava voando ao ver aquela multidão por cima, algo que como cadeirante não tenho muita noção, uma vez que estou sempre tendo uma visão debaixo do palco e/ou só vendo pessoas. Sempre nos eventos gosto de ficar em meio à galera, em frente aos palcos, pois gosto de entreter com o pessoal e sentir a vibe. Inclusive, muitos produtores oferecem camarote e área VIP, mas gosto da bagunça! Aceito mais esses camarotes devido à facilidade de ir ao banheiro.
Nesse caso, na STB, minha turma deu a ideia de me levantar e apesar do medo todos fizeram força e tiveram cuidado.” 

Por fim, qual recado você quer deixar para todas as pessoas que vão ler esta matéria? (Público, produtores etc).

“O recado que deixo é para cuidarmos uns dos outros e nos colocarmos no lugar do próximo. Não adianta fazer um mega banheiro ou uma mega rampa se não houver a tentativa de enxergar o evento pela ótica da pessoa com deficiência, tentando prever o que irão sentir e suas dificuldades.” 

Portanto, essa é a mensagem que queremos deixar a todos! Em uma cena que valoriza tanto o respeito mútuo e a igualdade, como a da música eletrônica, é necessário que saibamos acolher e incluir, também, as pessoas com deficiência.

Da escolha do local às sinalizações, espaços físicos, orientação da equipe (entre muitos outros fatores!), um evento que tenha acessibilidade é essencial para que todos os frequentadores possam viver uma ótima – e memorável – experiência! 

Sobre o autor

Seu Guia Completo da Música Eletrônica em Belo Horizonte

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