Em um cenário predominantemente masculino, a DJ Ekanta se destaca pela rica bagagem que possui, somada à extensa carreira que vem trilhando. Mãe dos também DJ, Alok e Bhaskar, nessa entrevista Ekanta nos conta um pouco da sua trajetória e da sua visão, como mulher, na cena eletrônica. Confira a seguir!
ENTREVISTA: EKANTA
Portal B2B: Primeiramente, muito obrigado por ceder um pouquinho do seu tempo pra realizar essa troca com a gente! Pra começar, como o Psytrance entrou na sua vida? Como foi esse primeiro contato com a cena?
“Ekanta: “Em 1994 foi a primeira vez que fui em uma festa de Psy. Na época em que eu morava na Holanda, frequentava muitas festas de House, Drum n’ Bass, Techno, mas na primeira vez que entrei numa festa de Psytrance, foi amor à primeira vista! Quando vi a decoração, as pessoas, o DJ, escutei a música, falei: “ Uau! É isso! ” E a partir daí, passei a frequentar todos os eventos da cena que pude ir.”
Portal B2B: E a decisão de se tornar DJ partiu de algum momento específico, ou foi uma ideia que ganhou maturidade com o passar do tempo?
Ekanta: “Uma ideia que foi ganhando maturidade. No início eu não pensava em ser DJ. Ela surgiu a partir de uma paixão que eu tinha por um DJ (risos) e a partir do contato crescente, que fui tendo com a cena. Eu trabalhava na limpeza do banheiro de um club em Amsterdã, o Trance Buddha, justamente no dia de eventos de Psy, e esse contato despertou meu interesse na carreira de DJ. Tudo aconteceu muito naturalmente, costumo dizer que foi um chamado. Eu não escolhi a música, ela que me escolheu!”
Portal B2B: Como foi esse processo de se assumir como artista?
Ekanta: “Sempre tive muito contato com o mundo artístico. Desde os meus 6 anos fazia teatro, dança, então sempre gostei muito de estar no palco, de captar a atenção do público, fazer arte e me expressar. Foi um processo bem natural. Em relação à música, o maior desafio – que considero ser até hoje – envolve a parte técnica da área.”
Portal B2B: No início da sua carreira, levando em consideração a época que você começou, quais eram os maiores desafios?
Ekanta: “Quando vim para o Brasil, em 1998, ainda haviam poucas coisas acontecendo no cenário eletrônico, no país. Tinha o Anderson Noise, em BH, o DJ Marky, em SP. Na Bahia e SP – com o Rica Amaral, Feio – existiam grupos de Psytrance, mas a cena ainda era muito pequena. Quase ninguém conhecia a música eletrônica por aqui, muito menos o Psytrance. Quando ia tocar nos lugares, eu ficava encarregada de levar todos os equipamentos, discos. O público estranhava bastante um DJ que não usava o microfone para falar com as pessoas, pois era com isso que eles estavam acostumados. No início era bem difícil, mas tudo foi um processo. Ao longo desses mais de 20 anos, fomos conquistando muitas coisas!”
Portal B2B: E você acha que o fato de ser mulher potencializou esses desafios na sua carreira? Fez você ter que se provar mais, ou duvidarem do seu potencial?
Ekanta: “Por um lado, o fato de ser mulher, determinadas vezes, me abriu certas portas, justamente pela escassez de mulheres DJs no mercado. Mas claro, vivemos em um mundo machista, então já tiveram situações em que me trataram com grosseria, porque a pessoa se sentiu ofendida por estar numa situação de “igual para igual”, com uma mulher. E vejo uma disparidade também em relação ao cachê. Ainda ganhamos menos, se comparado com os homens. Sinto que temos que trabalhar mais, para obter o nosso espaço e ser valorizada de forma igual. E isso não acontece só no mundo da música eletrônica, com outras profissões também, infelizmente.”
“Acredite nos seus sonhos. Persista. Assim como qualquer profissão, trabalhar no mundo artístico requer muito empenho, não é de uma hora para a outra que tudo começa a acontecer”
Ekanta Jake
Portal B2B: Desde esse primeiro contato com a música eletrônica, até hoje, você percebe uma evolução no que diz respeito à representatividade feminina na cena?
Ekanta: “Claro! Estamos crescendo muito. Hoje em dia temos muito mais mulheres DJs, mais espaço e acho que estamos evoluindo nisso cada vez mais. Em relação à produção musical, especialmente no Psytrance, ainda percebo uma falta de representantes femininas. Existem muitas DJs no mercado, mas quando se trata da produção musical esse número cai um pouco.”
Portal B2B: Sobre a maternidade, como foi conciliá-la com a carreira?
Ekanta: “Comecei a tocar com 26 anos, então os meus filhos (Alok e o Bhaskar) já não eram tão novinhos, tinham 8 anos de idade. Quando eu precisava viajar aos fins de semana, para tocar, recebia a ajuda de amigos, que se dispunham a cuidar deles durante os dias em que estava fora. Mas não era fácil conseguir lidar com a casa, a carreira e a criação dos meninos. Quando eles começaram a tocar, com 13 anos, tudo ficou mais tranquilo, as coisas foram se alinhando, fomos crescendo juntos!”
Portal B2B: E qual a sensação de ver seus filhos como DJs influentes, nacional e internacionalmente, hoje em dia?
Ekanta: “Ah, é maravilhoso! Acho que para qualquer mãe, ver a felicidade, a realização profissional, a prosperidade dos filhos, é algo muito bom! Ainda mais por terem escolhido a mesma profissão que a minha. E aprendo muito com eles! Pergunto sobre conselhos, mando músicas, dicas de como fazer determinadas coisas. Eles são uma referência para mim.”
Portal B2B: Mesmo não sendo fácil, o que te mantém no caminho da música? O que te move?
Ekanta: “Paixão! Ao longo desses 20 anos, é normal se sentir desmotivada, vez ou outra – especialmente enfrentando esse período de pandemia. Para nós DJs, que levamos uma vida dinâmica, de viagens, foi difícil ter que parar com esse ritmo todo, de uma vez. Houveram dúvidas, questionamentos, mas acredito que até essas situações serviram para nos manter evoluindo, saindo da zona de conforto. Mas, sem dúvidas, o que me mantém nesse caminho, o que me move, é a paixão!”
Portal B2B: E, por fim, qual conselho você daria para as DJs que estão começando agora e entrar na cena?
Ekanta: “Acredite nos seus sonhos. Persista. Assim como qualquer profissão, trabalhar no mundo artístico requer muito empenho, não é de uma hora para a outra que tudo começa a acontecer. É muito investimento de tempo, de energia, de força de vontade envolvida. Não é fácil, mas com persistência as portas vão se abrindo.”
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